ADAPTAÇÃO PARA TEATRO
AUTOR: JOÃO
EVANGELISTA DE SÁ
PERSONAGENS:
PAI: GENARO
MÃE: TIANA
FILHO: TENORO
PESCADORES: TINOCO E CARLÃO
FIGURANTES: VÁRIAS PESSOAS
RELIGIOSAS
NARRADOR: A CRITÉRIO DA DIREÇÃO
NARRADOR:
O folclore brasileiro é riquíssimo,
porquanto esta é uma oportunidade de aqui demonstrar durante a apresentação o
que a imaginação humana é capaz de fantasiar, desta forma, iremos apreciar um
trecho de nossa literatura que retrata a beleza dos contos e causos
folclóricos, aproveitamos para esclarecer que os personagens são de criações
fictícias e se por acaso houver alguma coincidência com a realidade, pedimos as
nossa desculpas, pois será puro e mero acontecimento, apenas o lugar em que
situa o palco da nossa apresentação é de conhecimento regional, podendo aqui
adiantar que tudo aconteceu no Rancho, lá no Ribeirão da Mesa.
MÃE, PAI E FILHO ESTÃO JUNTOS
PREPARANDO PARA A LIDA NO ROÇADO.
FILHO: Mãe! Hoje tá frio. Tá
caindo geada.
MÃE: Tá, Tenoro. Mas é só agora
de manhãzinha. (VIRA PARA O PAI) Num é mesmo Genaro?
PAI: É Tiana, mas agora vamos. O
roçado nos espera.
SAEM OS TRÊS ELA COM UMA BIA DE
ÁGUA NA CABEÇA E ELES COM AS ENXADAS NAS COSTAS
NARRADOR: Lá chegando, antes de
começar a capina, para surpresa de todos quase toda a plantação havia sido
destruída.
FILHO: Nossa! Danou tudo. Cadê a
plantação, mãe?
MÃE: Mas o que poderá ter
destruído nossa roça Tenoro? Meu Deus! E agora?
PAI: Num se lembra muié? O ano
passado foi à mesma coisa. Tivemo qui plantá tudinho de novo. Isto é arrumação
do arranca mio. Aquês passarinho preto. A gente planta e eles vem atrás
cantando. Sê finca, iue ranço... Sê finca, ieu ranço... Ai. Dá nisso.
FILHO: Se ieu incontrasse eles
aqui... Sei não... Matava um pur um, ah! ieu matava...
PAI: A gente num pode matá os
bicho não fio. Os bicho é da natureza. Se a gente matá vem um tal de IBAMA e
acaba prendendo nóis tudo.
MÃE: Antonce o que vamo fazê cum
esses danado? Se num pode matá, o que vamos fazê cum eles Genaro?
FILHO: Tive uma idéia...
PAI: Idéia? Mas qui idéia é essa
fio?
FILHO: Quando a gente chega lá na
roça, os arranca mio num voa? Pois intão? Isto qué dizê qui eles tem medo de
nóis, num é mermo mãe?
MÃE: E É...
FILHO: Antonce vamo prá casa. Lá
chegando a gente faz um buneco de páia e batiza ele de Mané, igualzinho nosso
vizinho, adispois finca ele lá no meio do roçado. Os danado num vai arranca
mais nem um pé de plantação. Ah! Num vai.
MÃE: Isto num vai dá certo. Chamá
o buneco de Mané. Isto num vai dá certo. Nosso vizinho vai acabá brigando.
FILHO: Antonce, mãe, vamo batizá
ele de Mané Tibiriçá.
PAI: Ah! Mané Tibiriçá... Mané
Tibiriçá pode. O Mané nosso vizinho é cunhecido cumo Mané do Torra Dora.
Antonce ele num vai brigá num é mermo Tiana?
MÃE: É. Antonce vamo logo dá um
jeito no Mané Tibiriçá. Vamos!
SAEM OS TRÊS
NARRADOR:
A Construção do Mané Tibiriçá, o
espantalho, não demorou muito tempo. Assim que acabada a obra, colocaram
chapéu, braços e pernas, o que tornou o Mané Tibiriçá, a imagem de um homem,
então eles voltaram para fincar aquela arte lá no meio do roçado que já havia
sido replantado e vinha estourando a terra mostrando as primeiras folhas.
Tenoro, o filho daquele casal,
passou a estimar o Mané Tibiriçá como se o mesmo fosse um ente da família.
Tudo para Tenoro era o tal do
espantalho, mas o pior aconteceu. Um temporal com chuva e ventos fortes. É isso
mesmo. Aconteceu no Rancho, lá no Ribeirão da Mesa. Veio chuva de granizo,
depois vento, depois chuva com fortes enxurradas causando enorme destruição e
tudo para desespero daquela família. Levou tudo. Tudinho. Inclusive o Mané
Tibiriçá.
PAI, MÃE E FILHO.
PAI: A chuva foi muita. Caiu
pedra. A ventania quase que dirruba os pés de jenipapo. Vai vê, a roça foi
toda. Será que o Mané Tibiriçá tá lá fincado Tiana?
MÃE: Ele foi bem fincado, antonce
acredito que só ele restou pur lá Genaro.
FILHO: E se a chuva levou o Mané?
E se ela levou ele?
PAI: A gente sai prucurando ele
até achá. A roça, a gente pranta outra, Mas o Mané...
NARRADOR: Lá chegando não havia
nem um pé de plantação pra remédio. Tudo tinha sido levdo pelo vento e as águas
da forte chuva que havia caído. Foi mesmo um espanto para todos.
MÃE: Nossa! Virge! A chuva levou
tudo. Levou o Mané tombém.
FILHO: Ieu quero o Mané!
(GRITANDO) Ieu quero o Mané!
PAI: E agora Tiana? E agora? E melhor
a gente vortá pru rancho e saí bem cedo amanhã para procurá o Mané pelas
vizinhança.
FILHO: Ieu quero o Mané!
(GRITANDO) Ieu quero o Mané!
PAI: Carma fio... Carma a gente
vai incontrá o Mané.
MÃE: Antonce Vamos! Amanhã cedo
vamos incontrá ele se Deus quizé.
FILHO: Ieu quero o Mané!
(GRITANDO) Ieu quero o Mané!
NARRADOR: Os três voltaram e no
dia seguinte, quando acordaram uma tragédia havia acontecido àquela família, o
filho do casal ficou traumatizado com a perda do espantalho.
MÃE: (GRITANDO) Genaro! Ô Genaro!
Venha até aqui home.
PAI: (ENTRA CORRENDO) O que foi
Tiana? O que foi?
MÃE: É Tenoro, nosso fio... Ele
tá mudo... Num qué acordá.
PAI: (SACUDINDO O FILHO) Acorda
Tenoro. Acorda fio.
FILHO: (APENAS ACORDA E LEVANTA,
MAS NÃO DIZ NADA, APENAS ACENA)
MÃE: Nosso filho ficou mudo. Meus
Deus! Nosso filho está mudo, Genaro.
PAI: Carma Tiana, vamo leva ele
no doutor e rezá pedindo a Deus. Vai dar certo. Vamos!
NARRADOR: Os três saíram em busca
de ajuda. Foram até à cidade fazer consulta médica, porém nada pode ser feito.
O trauma havia bloqueado a voz daquela criança. Só mesmo um milagre poderia
devolver a ele aquele sentido. Os dias foram passando e nada de melhora, mas
enquanto isso, lá no Córrego do São Nicolau Grande, dois pescadores lançavam os
anzóis na água corrente na esperança de encontrar peixes grandes, mas a pesca
naquela região estava escassa e para surpresa dos dois algo estranho foi
fisgado por um deles, foi mais ou menos assim:
CARLÃO: Aqui ta rui de peixe,
Tinoco.
TINOCO: Vou muda pru poço de
baixo, quem sabe...
CARLÃO: Corre aqui Tinoco. Parece
que fisguei um e é dos grandes.
TINOCO: Nossa! Virge! Esse é dos
bão. Vai vê é Piau.
CARLÃO: (ARRANCA O ESPANTALHO E
SAI GRITANDO) Isto é um santo! É milagre! Um santo.
TINOCO: E agora? O que devemos
faze Carlão?
CARLÃO: Lá num tem aquela capela?
A gente põe o santinho lá e vamos dize pra todos que ele é milagreiro.
TINOCO. Isso mesmo! Vamos!
(SAEM OS DOIS LEVANDO
O ESPANTALHO)
NARRADOR
Os dois então foram e colocaram o
espantalho no altar da capela e anunciaram que aquele santo milagreiro estava
curando as pessoas daquela região, não demorou muito tempo uma grande romaria
estava sendo realizada em busca da salvação. A notícia espalhou por todos os
cantos e foi cair nos ouvidos de Genaro e Tiana que imediatamente resolveram
levar o filho Tenoro que havia sofrido um trauma por ter perdido o espantalho e
acabara ficando mudo. Então rumaram para lá.
PAI: Olha, Tiana, ouvi dize que
tem um Santo milagreiro lá no Córrego do São Nicolau Grande.
MÃE: Ah! É? Antonce vamo levar o
Tenoro lá, quem sabe ele volta a fala.
PAI: Isso mesmo. Vamos.
SAEM OS TRÊS
NARRADOR: Enquanto isso, lá na capela do Córrego São
Nicolau Grande o povo se reunia e grande número para fazer os pedidos ao santo,
o Espantalho.
ENTRAM VÁRIAS PESSOAS E SE
AJOELHAM DIANTE DO ESPANTALHO, NESTE MOMENTO ENTRA O PAI, A MAE E O FILHO
FILHO: (ENTRANDO VÊ O ESPANTALHO
E SOLTA UM GRITO) Pai! Aquele é o Mane, É o Mane Tibiriçá.
PAI: Olha! O meu filho está
falando! Milagre! Milagre! Milagre
MÃE: Ele é mesmo um santinho. O
meu filho está falando. Milagre!
TODOS
(SAINDO E CARREGANDO
O ESPANTALHO VÃO GRITANDO À UMA SÓ VOZ)
Milagre! Milagre!
Milagre!
FINAL
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