quarta-feira, 15 de novembro de 2017

MEU PAI... MEU FILHO

AUTOR: JOÃO EVANGELISTA DE SÁ

JUNHO/1997

DEDICATÓRIA
Dedico esta peça à minha esposa Conceição Cristina Carvalho de Sá; aos meus filhos, Tauane e Samuel; aos meus irmãos e irmãs e a todo povo evangelistano.

APRESENTAÇÃO
A ilusão é uma mescla que esconde dentro do ser humano suas vontades e sonhos que por muitas vezes faz o homem interagir de forma tão estranha  parecendo que este, não   seja  racional como quem tanto a ciência releva.
Todo acontecimento se dá por volta dos anos 90. Na sala da casa onde está localizado um órgão há também um sofá e logo mais ao canto, uma mesinha com várias bebidas, enfim, tudo que se pode haver em uma casa de família de nível médio. Porém, naquele lar, faltava amor, união e carinho, principalmente por parte do pai
 

EU NÃO O CONHECI
TEXTO DE
OSVALDO FRANÇA JUNIOR

Meu filho foi embora e eu não o conheci.
Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo.
Agora que sua ausência me pesa, é que vejo como era necessário tê-lo conhecido.
Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.
Um certo dia, na sala, ele me puxou a barra do paletó e me fez examinar seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.
Uma outra vez, me pediu que consertasse um brinquedo velho. Desta vez eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo, porém, na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete e abraçado ao brinquedo velho. O novo estava a um canto.
Eu tinha um filho e agora não o tenho mais, porque ele foi embora. E, este meu filho, uma noite me chamou e disse:
- Fica comigo! Só mais um pouquinho, pai.
Eu não podia, mas a babá ficou com ele. Sou um homem muito ocupado. Mas meu filho foi embora, foi embora e eu não o conheci.


PERSONAGENS
ALFREDO: PAI
ANA: MÃE
ANDRÉ: FILHO
TEREZA: EMPREGADA
CLÁUDIO: O AMIGO DE ANDRÉ

Dá-se início a peça com o pai sentado no sofá, lendo o jornal, momento em que toca a música (Meu Pai meu herói – Autoria de Fábio Junior)
Assim que a musica chega ao final, entra a esposa  tomando um copo d’água e caminha de um lado para o outro em frente do marido clamando pela sorte.
O marido não percebe a presença pois está com as vistas voltadas para o jornal.
A esposa, coloca o copo sobre a mesa e numa atitude brusca toma-lhe o jornal das mãos e começa dialogar com voz enérgica.

CENA I

ANA: Alfredo! Você não percebe que nosso filho está crescendo e necessita de mais atenção de nossa parte?
ALFREDO: Ora mulher? E eu não tenho dedicado?
ANA: Não! Sabe, Alfredo, o André tem andado meio triste pelos cantos da casa, chego a pensar que este menino está sentindo falta de um apoio, um...
ALFREDO: Chega! Chega! Se não tenho dedicado mais tempo a ele, talvez seja por falta deste tempo, mas acredito que tudo isso acontece é porque tenho que trabalhar muito e... você sabe muito bem qual a finalidade do dinheiro. Quase um terço é para cuidar da saúde deste menino...
ANA: Mas Alfredo...
ALFREDO: É melhor que ele fique afastado de mim, assim tenho mais tempo de trabalhar e para o bem dele eu...
ANA: Mas que bem é esse? Nada tem ensinado a ele. Nosso filho está completando 17 anos e não consegue sequer adequar ao nosso convívio...
ALFREDO: Não fique tão nervosa assim. Eu conheço outras pessoas que enfrentam problemas maiores e não andam preocupadas. Pode ficar tranquila. Assim que os negócios de exportação estiverem fechados com os japoneses tirarei um tempo para estar com nosso filho...

CENA II


(ANDRÉ ENTRA ACOMPANHADO PELA EMPREGADA E CAMINHA EM DIREÇÃO AO PAI QUE O REJEITA)

TEREZA: Venha! André. Não aborreça seu pai. Ele está conversando e parece ser sério. Venha!
ANDRÉ: (SOLTA DAS MÃOS DE TEREZA E VAI PARA PERTO DO PAI)
ALFREDO: (APENAS EMPURRA LEVEMENTE ANDRÉ E CHAMA TEREZA) Tereza! Retire este garoto daqui. Leve-o para passear no jardim. Não vê que estou falando com Ana?
TEREZA: Sim, senhor! Mas seu filho...
ALFREDO: Não insista. Retire-o imediatamente de minha frente.
ANA: Mas, Alfredo!...
ALFREDO: Continue!... Vamos! Continue!... Já não tenho muito tempo para ficar aqui neste lero-lero. Daqui a pouco o motorista passará aqui para pegar-me...
ANA: Está certo, Alfredo. Haverá um tempo para ouvir-me e quem sabe um dia sentirá culpa por não ter sido amigo de seu filho.
ALFREDO: Desculpe-me. Tenho que ir. Os negócios estão a minha espera. Logo conversaremos. Devo ir. Pois se não cuidar depressa dos negócios, não sei o que será de nosso futuro. (SAI SEGURANDO O PALETÓ SOBRE OS OMBROS)

CENA III

ANA FICA SOZINHA EM CENA, FALANDO COM A PLATEIA

ANA: Meus Deus!... Tenho fé em Vós. Meu filho veio ao mundo com problemas, mas minhas esperanças não se esgotam. Alfredo, este, não quer reconhecer que André necessita de um ombro amigo para apoiar. Que tristeza!...Já não sei o que fazer...Às vezes chego a pensar que tudo está perdido, mas quando penso em Deus...As bênçãos do Senhor hão de cair sobre nós. André receberá de vossas mãos a graça. Tenho certeza de que alguma luz será enviada e derramada sobre ele, quem sabe assim, Alfredo sentirá na consciência o quanto está sendo ingrato para com seu filho. (VAI ATÉ AO SOFÁ, ASSENTA COM AS MÃOS NO ROSTO, COMO SE ESTIVESSE PENSATIVA E CHORANDO, DEPOIS LEVANTA, VAI ATÉ A MESA DE BEBIDAS SERVE UMA DOSE E VOLTA PARA O SOFÁ E COMEÇA A BEBER, QUANDO ENTRA ANDRÉ,  COM UM ROSA NA MÃO, ACOMPANHADO PELA EMPREGADA).
ANA: (LEVANTA E VAI DE ENCONTRO AO FILHO) Meu filho!
ANDRÉ: Não! Não diga nada! Esta rosa é para a senhora. Ela estava tão solitária lá no jardim, assim como à senhora assentada ali naquele sofá. Mas ela estava coberta de orvalho. Coitadinha! Toda trêmula. Trêmula como às vezes fico... Triste como a senhora... e abandonada como sempre sou... É uma bela flor! Não acha, mamãe? É a mais cheirosa que já vi. Esta é para a senhora. Meu pai não sabe o quanto tenho para doar a este mundo... Há de chegar o momento... Enquanto isso, receba, receba esta rosa. É para você. A de meu pai ainda está para ser colhida.
TEREZA: Vamos André! Vamos!... Sua mãe está preocupada, parece que está muito triste. Não vê? Ela está chorando...
ANDRÉ: Mas, Tereza, porque minha mãe está chorando?...
TEREZA: Talvez seja pela rosa que você deu a ela como presente, ou quem sabe... Ora filho...Vamos! Vamos! Já é hora da escola. Vamos! (SAEM OS DOIS, MOMENTO EM QUE TOCA O TELEFONE)
ANA: Alô! Bom dia! Com quem estou falando? (DÁ UM TEMPO) Ah! É o Cláudio! Já estou louca para conhece-lo. André, o meu filho, já mencionou o seu nome. Disse-me que tinha ganhado um amigo. Que bom!... (DÁ UM TEMPO). O quê?... Passar uns dias aqui? (DÁ UM TEMPO) Então venha! Estaremos a sua espera. Vai ser ótimo para nós. Vou avisar André assim que ele voltar da escola. (DÁ UM TEMPO) Dê um abraço em seus pais por nós. Tchau!. (VAI ATÉ A PORTA E GRITA A EMPREGADA) Tereza! Tereza!

CENA IV
(TEREZA E ANA)

TEREZA: (LÁ DE FORA) O que foi, senhora? O que foi?
ANA: Por favor! Venha até aqui. Por favor!
TEREZA: (JÁ EM CENA) O que foi, senhora?
ANA: Estou muito contente...
TEREZA: Então, fale senhora!. Fale. Ou melhor.... Espere. Vou buscar um copo d’água para a senhora. Nossa!... A senhora está tremendo. Veja...
ANA: Não! Não é necessário. Já estou mais calma.
TEREZA: Então fale. Está deixando-me aflita. Vamos conte. O que foi que aconteceu nesta sala. Vai ver que a senhora recebeu algum telefonema de Alfredo e... Este homem vai acabar matando a senhora....
ANA: É... Foi um telefonema que recebi, mas não foi de Alfredo, não.
TEREZA: Então quem foi, senhora? E por que está desse jeito?
ANA: Eu estou assim é de felicidade. Desta vez é de felicidade. Sabe, Tereza, aquele amigo de André, o Cláudio, acabou de ligar dizendo que  estará de férias e que virá passar uns dias conosco.
TEREZA: Nossa! Que maravilha! Devo anunciar a André, senhora?
ANA: Faça isto! Faça! Vá agora mesmo e anuncie a André. Ele ficará contente. Então faça isto.
TEREZA: (SAI GRITANDO) André! André! André! (LÁ FORA E AINDA GRITANDO) Por onde anda menino! André! Onde está vocêêê?...
ANA: (VAI A MESA, SERVE UMA OUTRA DOSE DE BEBIDA E SAI DE CENA BEBENDO)

CENA V
Entra neste momento Alfredo, coloca o paletó sobre o sofá. Assenta com os cotovelos apoiados nas cochas e uma das mãos no rosto, como quem estivesse a pensar, quando então entra Tereza limpando os móveis e arrumando as garrafas

TEREZA: Senhor Alfredo!?... O quê?... O senhor por aqui? (PARA A PLATEIA) Vem chumbo grosso por ai. (PARA ALFREDO) O Senhor me parece muito preocupado. É com seu filho ou com os negócios?
ALFREDO: Deixe de tantas perguntas e sirva-me um Wisk, sem gelo, por favor!
TEREZA: Pois não, senhor! Pois não! (VAI ATÉ A MESINHA DE BEBIDAS SERVE E ENTREGA PARA ALFREDO)
ALFREDO: (RECEBE O WISK E COMEÇA A BEBER) Obrigado! Obrigado!
ANA: (ENTRA E VAI LOGO PERGUNTANDO) Aconteceu algo, querido? Você não é de chegar cedo?...Aconteceu algo?...
ALFREDO: (LEVANTA RAPIDAMENTE E NERVOSO) Chega! Chega! Tantas perguntas. Isto só serve para irritar-me. Eu disse: chega!
ANA: Mas... Alfredo...
ALFREDO: Eu não lhe disse. Meu tempo está cada vez mais curto. Os japoneses exigiram minha presença no Japão. Devo partir ainda esta semana. Acredito que desta fez vamos fechar os negócios mas do contrário, conforme a decisão, acredito que ficarei por lá algum tempo. Ana, as coisas não estão boas... os negócios andam péssimos e cada vez a venda do produto está caindo...
ANA: Mas... Alfredo...
ALFREDO: Deixe de se lamentar, mulher! Aqui a gente só vê lamentos! Puxa! Desse jeito...
ANA: Então quando está pensando em partir?
ALFREDO: Amanhã. Se possível, quero partir no primeiro voo. Quero chega lá uns dias antes para poder assim analisar todas as possíveis propostas dos japoneses. Desta forma poderei fazer melhores negócios.
ANA: Mas logo amanhã? Então vai demorar por lá?
ALFREDO: Como lhe disse, tudo vai depender dos japoneses. E se acontecer o imprevisto, então acredito que ficarei por lá um longo tempo.
ANA: Mas logo agora... Logo agora que André está começando a sentir a sua presença?... Chego a não acreditar no que estou ouvindo.
ALFREDO:  Deixe se lamentar, mulher! André já ficou este tempo todo sem perceber a minha presença e não vai ser agora que ele vai me criar problemas. Eu já disse: Não posso demorar, os negócios com os japoneses tem que ser fechado e desta vez acredito que vou sair bem. Não se preocupe, Ana. Estarei sempre em contato com vocês.
ANA: Olha aqui, Alfredo! Hoje mais cedo, cheguei a ficar contente depois de receber um telefonema...
ALFREDO: Telefonema?
ANA: Sim. Um telefonema. Mas você não está dando muita importância. A sua preocupação é somente com os negócios da empresa...
ALFREDO: Tá bom! Então diga logo. Foram os japoneses?
ANA: Não. Foi um amigo de André.
ALFREDO: E o que ele lhe disse para causar tanta felicidade?
ANA: Disse que virá passar uns dias conosco, mas logo agora que você...
ALFREDO: Ah! Então será ótimo! Desta forma,  André não sentirá tanto a minha ausência...
ANA: (FALANDO PARA A PLATEIA) Que belo pai!...
TEREZA: Mas o que direi a André quando ele perguntar pelo senhor?
ALFREDO: Diga que o papai não demora a chegar, ou melhor, diga que o papai viajou para o exterior para resolver assuntos da empresa, mas que em breve estará de volta. (SAI JUNTAMENTE COM ANA)

CENA VI
(TEREZA FICA SOZINHA EM CENA FAZENDO A LIMPEZA DA CASA MOMENTO EM QUE CHEGA O CLÁUDIO, AMIGO DE ANDRÉ)

TEREZA: Nossa! Já estou cansada. Aqui, além do trabalho a gente vê tanta coisa. Nossa! Essa gente tem muitos problemas. D. Ana, coitadinha, é só andar pelos cantos da casa, feito num sei o quê!... André, pobre!... Este é mesmo um sofredor. Mas também... Não sabe o que passa ao seu redor. E o Sr. Alfredo. Peça ruim, aquele! (ASSENTA TODO FOLGADÃO E DÁ AS ORDENS) Tereza, me serve uma dose de Wisk!  O jornal chegou? Por favor, chame Ana para mim. Já estou mesmo cansada de tudo, de tudo.
CLÁUDIO: (BATE NA PORTA)
TEREZA: Espere um pouco. Já vou.
CLÁUDIO: (BATE NOVAMENTE NA PORTA)
TEREZA: Nossa! Já vou. Será que é alguém à procura do patrão. Já vou.
CLÁUDIO: (GRITA LÁ DE FORA) Tem alguém em casa?
TEREZA: Ô vida! (VAI ATENDER A PORTA) Boa Tarde!
CLÁUDIO: Boa tarde!
TEREZA: A quem devo anunciar?
CLÁUDIO: Diga que sou, Cláudio, o amigo de André.
TEREZA: Nossa! Nossa!. Desculpe-me se o fiz esperar. Entre! Entre!
CLÁUDIO: Obrigado.
TEREZA: Por assentar aí. Fique à vontade. O senhor bebe alguma coisa?
CLÁUDIO: Não. Não. Obrigado! Depois?!... Quem sabe?!...
TEREZA: Então aguarde! Vou chamar D. Ana. Não demoro. (SAI GRITANDO) D. Ana! D. Ana!. D. Ana! Ele chegou!. D. Ana! O senhor Cláudio está aqui.

CENA VII
CLÁUDIO ESTÁ EM CENA ASSENTADO NO SOFÁ QUANDO ENTRAM ANA, ANDRÉ E TEREZA

ANDRÉ: (VAI ATÉ CLÁUDIO E LHE DÁ UM FORTE ABRAÇO) É você Cláudio? Que alegria.
TEREZA: Eu não falei, André, que seu amigo ia passar uns dias aqui. Não falei.
ANDRÉ: Mãe, este é o meu amigo Cláudio.
ANA: (APERTANDO A MÃO DE CLÁUDIO) Seja bem vindo! Faça desta casa o seu lar.
CLÁUDIO: Obrigado!  Senhora... Senhora...
ANA: Pode me chamar de Ana. Apenas Ana.
CLÁUDIO: Obrigado, Ana! Muito obrigado!
ANA: (CHAMA TEREZA) Tereza! Chame Alfredo. Ele irá sair daqui a pouco, mas antes deverá ficar conhecendo, Cláudio. Vá! Chame Alfredo. Vá! Ande.
TEREZA: Pois não, senhora. Pois não. (SAI GRITANDO) Senhor Alfredo! Senhor Alfredo!
ALFREDO: (GRITA LÁ DE FORA) O Que foi Tereza? O que foi.  (ENTRANDO) Alguém morreu aí? Nossa!... Não tenho paz nesta casa... Nossa!...
TEREZA: (LA FORA) Por enquanto, ninguém morreu não, senhor. É que o amigo de André chegou e D. Ana quer que o Senhor vá conhece-lo.
ALFREDO: (ENTRA APERTA A MÃO DE CLÁUDIO) Boa tarde!
CLÁUDIO: Bom tarde, senhor!
ALFREDO: Então é o amigo de meu filho? Quero que sinta à vontade nesta casa. Mas que pena que não poderei estar com você por estes dias. Viajarei amanhã para o Japão. A negócios...
CLÁUDIO: Disseram-me que o senhor é uma pessoa de muitos negócios. Pessoas, como o senhor, andam muito ocupadas, mas não se preocupe. Eu e André teremos um longo tempo para nos divertir. Pode ficar tranquilo...
ALFREDO: Gostaria de lhe fazer um pedido...
CLÁUDIO: Se estiver ao meu alcance, estarei pronto para servi-lo. Faça! Qual é o pedido? Faça!
ALFREDO: Quero pedir a você que ajude o meu filho, pois até o presente momento nada fiz para ele. Eu não tenho tempo. Tempo de ser para ele um sonho... Um amigo para brincar... Um brinquedo para montar... Um boneco para rolar na grama ou pular na piscina... Um pai... Um pai que lhe ajudasse nas lições de casa... ou que desse um abraço no dia do seu aniversário. Acredito que haverá de sobrar um tempo para nós. Podem ficar certos disso. Agora tenho que ir. Vou para S. Paulo ainda hoje e amanhã pego o primeiro vôo para o Japão. (ABRAÇA ANA) Adeus, Ana! (APENAS OLHA PARA ANDRÉ) Adeus, André! (APERTA A MÃO DE CLÁUDIO) Quero que sinta como se fosse da casa, aproveite toda a suas férias.
CLÁUDIO: Não se preocupe, senhor. Acredito que passarei os dias melhores de minha vida. Gosto muito de meu amigo André. Iremos nos divertir muito.
ALFREDO: (FALA COM TEREZA) E você Tereza, continue cuidando de André.
MOTORISTA: (ENTRA) Tudo pronto senhor. Podemos ir para o aeroporto. Tudo pronto.
ALFREDO: (PEDE À TEREZA)  Tereza, por favor, pegue a mala para mim.
TEREZA: (SAINDO PARA PEGAR A MALA) Pois não, senhor.
CLÁUDIO: (COLOCA AS MÃOS NOS OMBROS DE ANA E FALA AO PÉ DE OUVIDO) Mas... Dona Ana?!...O senhor Alfredo parece uma pessoa muito ocupada mesmo, hein?
ANA: Muito. Muito, meu filho. Muito...
TEREZA: (TRAZENDO A MALA) Está aqui senhor. Está aqui.
MOTORISTA: (RECEBENDO A MALA) É somente esta mala, senhor?
ALFREDO: Sim. Vamos. (PARA TODOS) Então, até a volta. Fiquem com Deus. (SAI CHAMANDO O MOTORISTA) Vamos! Vamos!
CLÁUDIO: Mas... Dona Ana, o que é que ele vai fazer?
ANA: Tratar de negócios da empresa lá no Japão. É... lá no Japão...Mas quando voltar!... Sei não!.... Tudo poderá estar mudado... Mas agora, deixe pra lá. Vou lá dentro preparar alguma coisa para você. (VIRA PARA TEREZA) Venha, Tereza! Venha! Deixe os dois. Eles devem ter muito o quê conversar. Venha! (SAEM AS DUAS)




CENA VIII
CLÁUDIO E ANDRÉ

CLÁUDIO: Mas que belo órgão!... Sabe tocar?
ANDRÉ: às vezes tento dar algumas notas, mas não consigo. Meu pai nunca quis ensinar-me!
CLÁUDIO: Sabe, André, meu pai colocou-me em um conservatório musical e eu aprendi um pouco de música. A música faz parte da vida da gente. Posso dar uma olhadinha no seu teclado?
ANDRÉ: Mas é claro. Venha! Toque algo para mim. Venha!
CLÁUDIO: (APOIA A MÃO NO OMBRO DE ANDRÉ) Pois então, prepare e ouça com atenção! Quem sabe assim poderá aprender algumas notas comigo. (NESTE MOMENTO FICAM COMO SE ESTIVESSEM CONGELADOS, TOTALMENTE PARALISADOS QUANDO ENTRA TEREZA FAZENDO A LIMPEZA DA SALA E TAMBÉM FICA COMO SE FOSSE UMA ESTÁTUA)

CENA IX
ENTRA O COMENTARISTA

Foi necessário congelar aqui por alguns segundos os personagens para que de uma forma melhor pudéssemos chegar ao desfecho deste melodrama
Cláudio ficou ali durante umas férias e depois voltou em outra e em outras, vez tudo o que o Sr. Alfredo lhe houvera pedido. Foi um amigo verdadeiro para André.
O pai de André havia mesmo esquecido a família. Estava mesmo preocupado com os negócios.
Dá-se a pensar que o autor chegou a vivenciar fatos na atualidade, tais como os que transcorreram nesta apresentação. Pode ser!... Quem sabe?... Muitos pais abandonam temporariamente a família em busca de uma condição financeira melhor, mas só que nesta busca, acabam optando pelo desprezo total daqueles que deixara para trás.
            Triste! Muito triste! Sabermos que o homem despreza seu lar por quase nada... Somos dotados de inteligência... deveríamos fomentar o desejo de cada vez mais atar os laços da união familiar e com isso repassar aos outros o sabor da felicidade de quem vive unido.
            Não somos selvagens criados em meio às construções apenas dirigidos pelas fantasias que o cotidiano nos oferece como ilusão. Somos pessoa e enquanto pessoa devemos buscar sempre a felicidade de forma crescente.
            Já percebeu algum dia que quase tudo adquirido, quase nada lhe pertence?
            O que a nós pertence à não ser o presente momento?
            O tempo passa... e como passou... Lá se foram três anos...
            André com todo esforço aprendeu muito com seu amigo Cláudio. Aprendeu música. De forma que através desta aprendizagem, música e dança, chegou a recuperar mais de 70% do equilíbrio motor.
            Parece que vem vindo alguém? Será Alfredo? Enquanto isso, esperem! Vou tocar com uma vara de condão e ver se este povo volta a viver momentos. Esperem! (TOCA NA EMPREGADA, DEPOIS EM CLÁUDIO E EM SEGUIDA EM ANDRÉ E SAI DE CENA)

CENA X

ALFREDO: (BATE NA PORTA)
TEREZA: (ATENDENDO A PORTA VOLTA GRITANDO) Dona Ana! Dona Ana! Venha Cá. Venha ver quem chegou. Dona Ana! É o senhor Alfredo... Dona Ana!
ANA: O que foi Tereza. Você passa cada susto na gente. Nossa! O que foi
TEREZA: O senhor Alfredo. Ele está aí. Ele chegou.
ALFREDO: (ENTRA E NESTE MOMENTO COMEÇA A TOCAR A MÚSICA “NAQUELA MESA” DE SÉRGIO BITTENCOURT)
ANA: (ABRAÇA ALFREDO) Alfredo! Que Saudade! Nossa! Mas demorou...
ALFREDO: Sim. Demorei, mas agora poderemos estar juntos para sempre... Os negócios foram fechados com os japoneses. Vendi tudo para eles. Agora estou livre e quero dedicar uma pouco à minha família. (CAMINHA PARA ABRAÇAR ANDRÉ) Meu filho!
ANDRÉ: (FICA APENAS A ADMIRÁ-LO POR ALGUNS INSTANTES)
CLÁUDIO: (CHEGA PERTO DE ANDRÉ, DÁ-LHE UMA SACUDIDA) Este é o seu pai. Não o reconhece mais?
ALFREDO: Mas como está mudado meu filho! Já não sente mais nada?
ANDRÉ: (PERGUNTA A MÃE) Mãe, este senhor é o meu pai?
ANA: Sim, meu filho. Este é seu pai.
ANDRÉ: (CAMINHA PARA ABRAÇA-LO) Meu pai!
ALFREDO: (ABRAÇA O FILHO) Meu filho!

FECHAM-SE AS CORTINAS
FIM


SEGUNDA PEÇA




O ESPANTALHO
ADAPTAÇÃO PARA TABLADO
AUTOR: JOÃO EVANGELISTA DE SÁ

PERSONAGENS:
PAI: GENARO
MÃE: TIANA
FILHO: TENORO
PESCADORES: TINOCO E CARLÃO
FIGURANTES: VÁRIAS PESSOAS RELIGIOSAS
NARRADOR: A CRITÉRIO DA DIREÇÃO

NARRADOR:

O folclore brasileiro é riquíssimo, porquanto esta é uma oportunidade de aqui demonstrar durante a apresentação o que a imaginação humana é capaz de fantasiar, desta forma, iremos apreciar um trecho de nossa literatura que retrata a beleza dos contos e causos folclóricos, aproveitamos para esclarecer que os personagens são de criações fictícias e se por acaso houver alguma coincidência com a realidade, pedimos as nossa desculpas, pois será puro e mero acontecimento, apenas o lugar em que situa o palco da nossa apresentação é de conhecimento regional, podendo aqui adiantar que tudo aconteceu no Rancho, lá no Ribeirão da Mesa.

MÃE, PAI E FILHO ESTÃO JUNTOS PREPARANDO PARA A LIDA NO ROÇADO.


FILHO: Mãe! Hoje tá frio. Tá caindo geada.
MÃE: Tá, Tenoro. Mas é só agora de manhãzinha. (VIRA PARA O PAI) Num é mesmo Genaro?
PAI: É Tiana, mas agora vamos. O roçado nos espera.

SAEM OS TRÊS ELA COM UMA BIA DE ÁGUA NA CABEÇA E ELES COM AS ENXADAS NAS COSTAS

NARRADOR: Lá chegando, antes de começar a capina, para surpresa de todos quase toda a plantação havia sido destruída.

FILHO: Nossa! Danou tudo. Cadê a plantação, mãe?
MÃE: Mas o que poderá ter destruído nossa roça Tenoro? Meu Deus! E agora?
PAI: Num se lembra muié? O ano passado foi à mesma coisa. Tivemo qui plantá tudinho de novo. Isto é arrumação do arranca mio. Aquês passarinho preto. A gente planta e eles vem atrás cantando. Sê finca, iue ranço... Sê finca, ieu ranço... Ai. Dá nisso.
FILHO: Se ieu incontrasse eles aqui... Sei não... Matava um pur um, ah! ieu matava...
PAI: A gente num pode matá os bicho não fio. Os bicho é da natureza. Se a gente matá vem um tal de IBAMA e acaba prendendo nóis tudo.
MÃE: Antonce o que vamo fazê cum esses danado? Se num pode matá, o que vamos fazê cum eles Genaro?
FILHO: Tive uma idéia...
PAI: Idéia? Mas qui idéia é essa fio?
FILHO: Quando a gente chega lá na roça, os arranca mio num voa? Pois intão? Isto qué dizê qui eles tem medo de nóis, num é mermo mãe?
MÃE: E É...
FILHO: Antonce vamo prá casa. Lá chegando a gente faz um buneco de páia e batiza ele de Mané, igualzinho nosso vizinho, adispois finca ele lá no meio do roçado. Os danado num vai arranca mais nem um pé de plantação. Ah! Num vai.
MÃE: Isto num vai dá certo. Chamá o buneco de Mané. Isto num vai dá certo. Nosso vizinho vai acabá brigando.
FILHO: Antonce, mãe, vamo batizá ele de Mané Tibiriçá.
PAI: Ah! Mané Tibiriçá... Mané Tibiriçá pode. O Mané nosso vizinho é cunhecido cumo Mané do Torra Dora. Antonce ele num vai brigá num é mermo Tiana?
MÃE: É. Antonce vamo logo dá um jeito no Mané Tibiriçá. Vamos!

SAEM OS TRÊS

NARRADOR:
A Construção do Mané Tibiriçá, o espantalho, não demorou muito tempo. Assim que acabada a obra, colocaram chapéu, braços e pernas, o que tornou o Mané Tibiriçá, a imagem de um homem, então eles voltaram para fincar aquela arte lá no meio do roçado que já havia sido replantado e vinha estourando a terra mostrando as primeiras folhas.
Tenoro, o filho daquele casal, passou a estimar o Mané Tibiriçá como se o mesmo fosse um ente da família.
Tudo para Tenoro era o tal do espantalho, mas o pior aconteceu. Um temporal com chuva e ventos fortes. É isso mesmo. Aconteceu no Rancho, lá no Ribeirão da Mesa. Veio chuva de granizo, depois vento, depois chuva com fortes enxurradas causando enorme destruição e tudo para desespero daquela família. Levou tudo. Tudinho. Inclusive o Mané Tibiriçá.

PAI, MÃE E FILHO.

PAI: A chuva foi muita. Caiu pedra. A ventania quase que dirruba os pés de jenipapo. Vai vê, a roça foi toda. Será que o Mané Tibiriçá tá lá fincado Tiana?
MÃE: Ele foi bem fincado, antonce acredito que só ele restou pur lá Genaro.
FILHO: E se a chuva levou o Mané? E se ela levou ele?
PAI: A gente sai prucurando ele até achá. A roça, a gente pranta outra, Mas o Mané...

NARRADOR: Lá chegando não havia nem um pé de plantação pra remédio. Tudo tinha sido levdo pelo vento e as águas da forte chuva que havia caído. Foi mesmo um espanto para todos.

MÃE: Nossa! Virge! A chuva levou tudo. Levou o Mané tombém.
FILHO: Ieu quero o Mané! (GRITANDO) Ieu quero o Mané!
PAI: E agora Tiana? E agora? E melhor a gente vortá pru rancho e saí bem cedo amanhã para procurá o Mané pelas vizinhança.
FILHO: Ieu quero o Mané! (GRITANDO) Ieu quero o Mané!
PAI: Carma fio... Carma a gente vai incontrá o Mané.
MÃE: Antonce Vamos! Amanhã cedo vamos incontrá ele se Deus quizé.
FILHO: Ieu quero o Mané! (GRITANDO) Ieu quero o Mané!
NARRADOR: Os três voltaram e no dia seguinte, quando acordaram uma tragédia havia acontecido àquela família, o filho do casal ficou traumatizado com a perda do espantalho.

MÃE: (GRITANDO) Genaro! Ô Genaro! Venha até aqui home.
PAI: (ENTRA CORRENDO) O que foi Tiana? O que foi?
MÃE: É Tenoro, nosso fio... Ele tá mudo... Num qué acordá.
PAI: (SACUDINDO O FILHO) Acorda Tenoro. Acorda fio.
FILHO: (APENAS ACORDA E LEVANTA, MAS NÃO DIZ NADA, APENAS ACENA)
MÃE: Nosso filho ficou mudo. Meus Deus! Nosso filho está mudo, Genaro.
PAI: Carma Tiana, vamo leva ele no doutor e rezá pedindo a Deus. Vai dar certo. Vamos!

NARRADOR: Os três saíram em busca de ajuda. Foram até à cidade fazer consulta médica, porém nada pode ser feito. O trauma havia bloqueado a voz daquela criança. Só mesmo um milagre poderia devolver a ele aquele sentido. Os dias foram passando e nada de melhora, mas enquanto isso, lá no Córrego do São Nicolau Grande, dois pescadores lançavam os anzóis na água corrente na esperança de encontrar peixes grandes, mas a pesca naquela região estava escassa e para surpresa dos dois algo estranho foi fisgado por um deles, foi mais ou menos assim:

CARLÃO: Aqui ta rui de peixe, Tinoco.
TINOCO: Vou muda pru poço de baixo, quem sabe...
CARLÃO: Corre aqui Tinoco. Parece que fisguei um e é dos grandes.
TINOCO: Nossa! Virge! Esse é dos bão. Vai vê é Piau.
CARLÃO: (ARRANCA O ESPANTALHO E SAI GRITANDO) Isto é um santo! É milagre! Um santo.
TINOCO: E agora? O que devemos faze Carlão?
CARLÃO: Lá num tem aquela capela? A gente põe o santinho lá e vamos dize pra todos que ele é milagreiro.
TINOCO. Isso mesmo! Vamos!

(SAEM OS DOIS LEVANDO O ESPANTALHO)

NARRADOR
Os dois então foram e colocaram o espantalho no altar da capela e anunciaram que aquele santo milagreiro estava curando as pessoas daquela região, não demorou muito tempo uma grande romaria estava sendo realizada em busca da salvação. A notícia espalhou por todos os cantos e foi cair nos ouvidos de Genaro e Tiana que imediatamente resolveram levar o filho Tenoro que havia sofrido um trauma por ter perdido o espantalho e acabara ficando mudo. Então rumaram para lá.

PAI: Olha, Tiana, ouvi dize que tem um Santo milagreiro lá no Córrego do São Nicolau Grande.
MÃE: Ah! É? Antonce vamo levar o Tenoro lá, quem sabe ele volta a fala.
PAI: Isso mesmo. Vamos.

SAEM OS TRÊS

NARRADOR:  Enquanto isso, lá na capela do Córrego São Nicolau Grande o povo se reunia e grande número para fazer os pedidos ao santo, o Espantalho.

ENTRAM VÁRIAS PESSOAS E SE AJOELHAM DIANTE DO ESPANTALHO, NESTE MOMENTO ENTRA O PAI, A MAE E O FILHO

FILHO: (ENTRANDO VÊ O ESPANTALHO E SOLTA UM GRITO) Pai! Aquele é o Mane, É o Mane Tibiriçá.

PAI: Olha! O meu filho está falando! Milagre! Milagre! Milagre
MÃE: Ele é mesmo um santinho. O meu filho está falando. Milagre!

TODOS
(SAINDO E CARREGANDO O ESPANTALHO VÃO GRITANDO À UMA SÓ VOZ)

Milagre! Milagre! Milagre!

FINAL

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente ..