Transcorria
o ano como todos os outros... Só que já chegando ao final.
O
fogo vinha fazendo grandes estragos à vegetação que ainda cobria as
terras empobrecidas, trincadas e pisoteadas pelo gado que sobre elas tombavam famintos.
O
descaso do governo federal era tamanho que nem o clamor de calamidade pública
lhe dava por conta de que o vale esquecido estava virando deserto, ainda por
cima, existiam os que tiravam proveitos de tal situação. Era como uma peste.
Uma peste.
Contudo,
mesmo com tudo, a persistência do caboclo em se estabelecer naquele lugar era
enorme, causando espanto aos olhos de qualquer humano sentimental.
Dé
de Santana era um desses, casado com Noêmia, os quais tiveram uma filha, à qual
deram como nome de batismo, Éster, que mais tarde veio a ser conhecida
vulgarmente como Teca. Ela, agora, está com seus dezesseis anos, com uma
cinturinha de pilão e os peitos pontiagudos, que ao longe se avistam por entre
os farrapos que lhe enganam a cobertura. Pois então, estes ficaram os pés na
terra e disseram que ainda acreditavam em Deus e esperavam por dias melhores.
Dé
de Santana, cabra de muitas lidas tinha coragem para dar e vender. Uma vez, num
daqueles arrasta-pés no povoado, ele riscou a faca nas paredes de pau a pique
que as marcas ficaram gravadas por muitos anos e tudo porque um “tal” de Neném
quis se engraçar com sua filha Teca. A menina ainda estava franzina quando se
deu aquele episódio. Não havia muitas dançadeiras e já era quase final de
festa, quando ele a chamou para uma contradança, momento em que silenciosamente
a infantil criança apenas abanou negativamente a cabeça e quando ia se pondo em
retirada, foi segura pelas mãos fortes de Neném, quase que querendo obrigá-la
ao convite. Não deu outra, ao longe e como de costume, estava Dé de Santana com
os olhos fixos aos movimentos de sua filha. Pois é, não deu outra. Ele foi
imediatamente sacando uma faca coqueiro que se encontrava na bainha e
dependurada em sua cintura, indo em direção de Neném, riscando por todas as
bandas. A coisa foi de assombrar, até que o dono da casa gritou:
-
Por hoje chega, chega. A festa esta acabada.
Neném
também não deixava por menos, mas não era de guardar rancor. Então, para que
sangue ali não fosse derramado, ele saiu da sala e se foi.
Dé
de Santana que já de conhecida fama, ficou por ali aos berros, enquanto isso,
Noêmia e Teca se punham aos soluços.
Naquele
dia, a festa se dera por acabada, mas à vontade de Neném em querer se dar com a
filha de Dé de Santana, continuava nas entranhas de seu peito, batendo forte
cada vez mais.
Os
dias passavam e o esquecimento daquela tragédia ainda morava nas lembranças
daqueles dois. Dé de Santana não podia nem mesmo passar por perto de onde Neném
estivesse a prosear e se estivesse, virava o rosto para o outro lado como quem
sentisse nojo de alguma coisa.
Outro
dia, Dé de Santana ficou surpreso. Ao apear de seu cavalo e entrar na venda
para comprar um pouco de mantimentos, ouviu os cumprimentos de Neném.
-
Tarde, senhor.
Por
entre os dentes e os bigodes de Dé de Santana, saiu a resposta.
-
Tarde
Mas
não passou de apenas uma troca de curtos cumprimentos e ao ser atendido, Dé de
Santana saiu silenciosamente por outra porta de maneira que não se dava para
perceber a sua retirada.
Teca
não percebia que os olhares e as ações de Neném indicavam sentimentos maiores,
pois a sua inocência ainda lhe tomava por inteira. Ela amadurecia apenas nas
formas de seu corpo, que ganhavam traços perfeitos e curvaturas que causavam
desejos aos olhares dos homens daquele lugar.
Dé
de Santana começava a se preocupar com os trejeitos de sua filha e não perdendo
tempo chamou Noêmia para uma conversa mais séria.
-
Estou bastante preocupado, Noêmia.
Com
o quê, Dé? Com o quê?
Acho
que Teca já está virando mocinha... Devemos tomar cuidados.
-
Não se preocupe... Não se preocupe... Ela é ajuizada.
Aquela
conversa foi uma das primeiras, outras ainda estavam por vir.
Havia
por alí outro rapaz conhecido como
Nozinho que trabalhava como vaqueiro na fazendo de Manuelzão, este era um
grande amigo de Dé de Santana, com ele Teca podia trocar olhares que não havia
importância, mas a pequena não era nenhuma atração para o vaqueiro.
Nozinho
usava sempre um chapéu de couro com abas curtas, surrado e com mostras de suor
que davam sinais de que ele era um homem trabalhador.
Noêmia
também mostrava sorrisos para ele em formas de consentimento de aproximação com
sua filha, mas quem começava a desconfiar de tudo era Neném que às espreitas se
punha a observar as idas de Nozinho à casa de Dé de Santana.
Irado
com tantas visitas Neném jurou morte ao vaqueiro
-
De certo aquele peste do Nozinho está cortejando a Teca. Ele vai me pagar. Ah!
Ele me paga.
Coitado!
As idas de Nozinho à casa de Dé de Santana não passavam de apenas visitas
costumeiras para passar o tempo através de causos e mais causos até a chegada
do sono que não muito tardava.
Mas
juramento é juramento e ele estava jurado de morte que mais cedo ou mais tarde
iria acontecer. No pensamento de Neném, Nozinho já estava apagado, morto.
Numa
tarde dessas, em que as trocais cantavam tristes nas palhadas da fazenda de
Manuelzão, vinha pelos caminhos Teça.
Ela
trajava um vertido de chita acima dos joelhos, mostrando as curvas de suas
lindas pernas e como de costume trajando inocentemente uma blusinha rasgada,
mostrando os lindos peitos, que de tão bem formados pareciam esculturas polidas
por mão de artesãos.
Vinha
carregando sobre a cabeça um tabuleiro contendo o almoço de seu pai que se
encontrava na lida da colheita do milho, quando ao longe, caminhando em sua
direção vem Neném, que ao avistá-la pôs o coração a palpitar dizendo baixinho:
- Vai ser hoje. Agora. Vai ser agora. Vou dizer
a ela que estou apaixonado.
As
passadas de Neném foram firmes, constantes e maliciosas, enquanto as de Teca
eram macias, leves e inocentes sem nenhuma imaginação.
Estavam
à poucos passos um do outro quando Neném parou e dirigiu os cumprimentos
envenenados de desejos.
-
Dia, Teca. Dia.
-
Dia – respondeu com toda simplicidade a pequena -
Ele
que já havia premeditado as palavras tomou as iniciativas.
-
Teca, não suporto mais o que tanto me bate ao peito. Estou apaixonado e quero
que seja minha por todos os dias de minha vida.
A
menina, que não esperava por aquilo, quis sair, mas foi contida pelas mãos de
Neném que a apertando tomou-lhe o
tabuleiro e colocou sobre um pequeno tronco de madeira apodrecido à beira da
estrada, continuando ali a sua declaração de afeto.
- Caso não fizer de você a minha mulher, não
será de outro. Juro.
Ela
continuava silenciosamente, apenas a olhar nos olhos de Neném. Também nunca a
ela haviam sido dirigidas palavras tão fortes quanto àquelas... Ele continuou:
-
Tem mais, espero que nada venha a dizer a seus pais, pois eles não gostam de
mim, do contrário terei que fazer mal a todos e por assim dizer, o que tanto
faz o Nozinho lá em sua casa. Por acaso está de conversas com você? Está?
Com
a voz trêmula saiu de seus lábios apenas uma negativa.
-
Não.
-
Ah! Mas se aquele filho de uma égua triscar um olho pra você, vai se ter
comigo. Ah! Isso vai. – Disse de maneira assustadora -
Como
já havia um bom tempo que ali se encontrava, ela pediu-lhe que a deixasse, pois
seu pai estava na lavoura e já estava passando da hora do almoço.
Ele
não se contendo ao pedido deixou que ela seguisse o trajeto, mas ficou a
observá-la até que lhe fugisse às vistas.
Naquele
dia, Neném entrou na venda e pôs a beber até se escornar. Coisa que há muito
tempo não fazia.
Teca,
nada disse aos pais sobre aquele encontro, mas as palavras que lhe foram
dirigidas não lhes saíam da cabeça, claro, também nunca alguém havia lhe
dirigido de tal forma. Aquilo mexeu também com os sentimentos dela que até
sentiu vontade de novamente encontrar com Neném outras vezes, só para ouvi-lo
dizer das coisas do coração.
Mas
os dois só iriam estar à vontade se caso houvesse alguma festa de danças ou
religiosas, o que não ia tardar, pois em breve estariam festejando naquele
lugar a festa do padroeiro Santo Antônio. Durante esta festa é de costume
daquele povo fazer barraquinhas, dançar em volta de uma fogueira, soltar balão
e contar causos até o raiar do dia de sábado para domingo.
Dé
de Santana não perdia uma destas festas e sempre ia acompanhado de Noêmia e sua
filha Teca. Ia somente para arrematar os leitões magros que eram dados lances
pelos gritos do leiloeiro assim: “Olha que afronto que eu faço. Que mais eu não
acho. Se mais eu achasse, mais eu queria... Dou-lhe uma... Dou-lhe duas...
Dou-lhe três”. Era assim a diversão de Dé de Santana, enquanto isso, Noêmia e
Teca ficavam de conversas com outras que rodeavam a fogueira a ouvir o toque da
sanfona acompanhada das batidas de acordes de um violão.
Naquela
noite, o pior estava para acontecer. Neném estava por ali, também estava
Nozinho com aquele chapéu de couro de abas curtas sobre a cabeça. A desgraça ia
acontecer naquela noite.
Dé
de Santana não perdendo tempo acenou para Nozinho que foi se aproximando e se
cumprimentaram.
-
Noite, Dé.
-
Noite, Nozinho. Veja o que arrematei. Um leitão. Daqui há uns três meses já
está bom. Então, quero desde já convidá-lo para comer uma carne conosco.
Não
sabendo Dé de Santana que aquela seria a última noite de Nozinho, que iria
morrer inocentemente, covardemente pelas mãos de Neném e tudo por ciúmes
causados pela amizade deste com a família de Teca.
Ficaram
os dois, Nozinho e Dé de Santana, por alguns minutos a conversar quando se
aproximou Noêmia e Teca, isto não muito
distante dos olhares de Neném que observava cheio de ódio às atenções dadas ao
vaqueiro.
-
Por que ele e não eu? Desgraçado... Vou fazê-lo pedacinhos. Mas de jeito que
não sobre nada nem mesmo o pensamento dele. Vou fazer tudo certinho para que
não saibam que o Neném aqui foi o culpado. Vou sair na frente... Esperar de
tocaia... Assim que ele abrir a porteira lá perto daquele pé de jatobá, vou
abrir fogo, depois é só dar no pé, ninguém vai imaginar que sou o culpado.
Ninguém. Dizem que ele tem uma rixa antiga com Jamelão, coisa de infância... Aí
então, eu mesmo posso culpar este tal de Jamelão. Boa lembrança! É melhor ir
andando... Devo chegar lá mais cedo do que ele...
Para
contar a verdade, Nozinho tinha mesmo que ir se embora, rumo às terras de
Manuelzão, pois era ele quem tinha as responsabilidades de lidar com a ordenha
ao amanhecer. Desta forma, não deu muitas conversas, apenas ingeriu umas doses
de aguardente na barraquinha de dona Raimunda Quitéria, voltando a estar com Dé
de Santana apenas para se despedir, enquanto isso, Neném já havia andado à
frente.
Naquela
noite, Teca estava parecendo um rosa que desabrocha na primavera, estava
encantadora com seus cabelos pretos jogados ao lado e trançados, coisa somente
vista em quadros pintados em tela ou personagens de contos de fada.
Então,
Nozinho caminhou até a família de Dé de Santana para os costumeiros apertos de
mãos.
-
Estou de ida, Senhor Dé. Gostaria de agradecer pelo convite no dia da matança
do leitão. No dia estarei lá. Pode esperar-me.
-
O bichinho vai estar bem gordo. Mandarei lhe avisar e não quero ser
decepcionado. Ficarei esperando. Ah! Lá chegando, dê as minhas recomendações a
Manuelzão, diga a ele que em breve lhe farei uma visita.
-
Certo Senhor Dé. Certo.
Naquele
momento, Teca se aproxima mais perto de Nozinho para que também fosse lhe dada
à atenção dos cumprimentos.
-
Até mais ver, Teca.
Teca
fitava-lhe o olhar como quem estivesse a dizer-lhe algo. Intuição feminina.
Alguma coisa de errado iria acontecer, mas era impossível de se saber o que
poderia ser. Então, preocupado com aquele fitar de olhos, Nozinho pergunta:
-
Está estranha? O que está acontecendo?
Não
perdendo a oportunidade, Teca pede a Nozinho para não ir naquele momento, pois
precisaria ter uma conversa e já foi lhe
passando os braços afastando-se um pouco de seus pais para então confessar o
que Neném lhe havia dito no caminho do roçado.
Ficaram
encostados ao tronco de uma grande gameleira meio às escuras de onde não se
dava para serem ouvidos, apenas mal vistos. Ela, alí começou a confissão:
-
Nozinho, eu já ia levando o tabuleiro com o almoço de papai, isto há dois dias
passados, quando veio ao meu encontro, Neném. Confesso que fiquei amedrontada,
pois percebi que ele estava mal intencionado. Notei pelas suas passadas e não é
que aquele... Aquele... Sei lá... Parou em minha frente e foi logo dizendo um
montão de besteiras, depois me perguntou se você estava de namoricos comigo.
Apressei a resposta dizendo que não. Que você é simplesmente amigo de nossa
família. Aí ele disse-me que se eu não me desse com ele, se não fosse a sua
mulher, não seria de mais ninguém. Tinha que lhe fazer esta confissão, talvez
não tenha percebido, mas até poucos instantes ele estava acompanhando todos os
meus passos e teve um momento que não tirou o olhar de você. Estou muito
preocupada. Muito preocupada. Agorinha mesmo ele estava por aqui, mas não o
vejo mais. Creio que já se foi.
-
Fique tranqüila, não diga nada para seus pais. Pode deixar comigo, encontrarei
com Neném ainda esta semana. Mas, você não falou isso para seus pais? Ou falou?
-
Não. Ele disse-me ainda que se meus pais ficassem sabendo, algo ruim poderia
acontecer a eles. Então...
-
Isso mesmo, não fale nada. Quando me encontrar com Neném, colocarei tudo isso a
limpo. Pode deixar. Fique tranqüila. Agora vamos, seus pais podem estar
preocupados.
Nesse
momento, Teca aproxima-se mais de Nozinho e lhe dá um beijo na face os dois voltam para perto da fogueira onde
estavam Dé de Santana e Noêmia, que toda contente sorria dizendo:
-
A demora foi pouca.
-
Sim Senhora Noêmia, não posso mais tardar. O gado já está à minha espera para a
ordenha.
Com
apenas apertos de mãos fizeram as últimas despedidas e ele se foi.
Lá
à espera, por detrás do pé de jatobá, estava Neném preparado para o serviço.
Não demorou muito tempo Neném ouviu um tropel de cavalo aproximar-se da
porteira. Era Nozinho. Naquele momento, da arma de Neném saiu um estampido
fulminante fazendo-o tombar ao chão. Enquanto isto, o desastrado e malfazejo
delinqüente se pôs em correrias novamente para onde ainda acontecia o final dos
festejos de Santo Antônio, isto posto que, sendo visto não seria mencionado
como culpado de tão bárbara tragédia.
Teca
sempre com o ar de preocupada, corria o olhar em todos os cantos como quem
estivesse à procura de algo que se tenha perdido e quando num destes olhares de
busca deu-se com Neném, que não perdendo tempo fez acenos para que ela fosse ao
seu encontro. Temendo que seu pai o visse, ela deu algumas desculpas e depois
foi ao encontro dele e lhe disse:
-
Você está louco, homem. Se meu pai o visse acenando para mim... Não sei do que
seria capaz...
-
Gostaria de falar mais uma vez com você, nem que seja esta a última. Quero
fazê-la minha mulher. Estou ficando cada vez mais apaixonado.
Mal
terminou de dizer, foi logo puxando a pretendida para mais próximo dele e como
quem roubando, dá-lhe um beijo. Mas ela tentando sair se esforçava, esperneava,
mas em vão, até que acabou cedendo às delicias e carícias do afago de Neném.
Depois
daquela iniciativa do rapaz, ela sem nada dizer saiu de seus braços, deu meia
volta e de novo foi estar com seus pais que perguntaram:
-
Onde esteve, Teca? – Indagou Noêmia –
-
Com quem estava minha filha? – Suspeita o pai.
E
ela sem titubear foi logo respondendo:
-
Fui até a barraca de Dona Quitéria, perguntar o que Nozinho estava conversando
com ela. Foi só isso. Somente isso.
Já
estava quase raiando o dia, quando poucos ainda por alí restavam presenciaram o
momento em que o festeiro anunciara o final da festa, agradecendo o
comparecimento de todos, convidando-os para o próximo encontro no ano vindouro,
prometendo algo muito melhor. Na fogueira ainda fumegava os troncos, mas já sem
muita gente por perto. Era hora de regressar.
Dé
de Santana tinha que passar por uma porteira lá perto de um pé jatobá, pois era
rumo de sua moradia e por certo ia deparar como o corpo de Nozinho estirado ao
chão.
Teca
e Noêmia iam a pé enquanto que Dé ia montado em seu cavalo andava a passos
lentos, enquanto proseava sobre quão boa estava a festa de Santo Antônio.
Chegou a comentar que nada de mal havia ocorrido por lá. Não sabendo ele do que
lhe esperava a poucos metros dali, seu melhor amigo estava morto.
Já
dando para avistar algo inerte ao lado de um animal, Dé que ia à frente gritou:
-
Corre! Corre aqui Noêmia, tem alguém caído alí.
Noêmia
e Teca apressaram aproximando-se de Dé que imediatamente apeou-se de seu cavalo
e foi logo exclamando:
Nossa!...
Mataram o Nozinho.
Noêmia,
toda apavorada pergunta:
-
Quem será que cometeu esta barbaridade?
-
Vai ver, foi Jamelão. Nozinho havia me contado que tinha uma rixa antiga com
ele... – Respondeu Teca.
-
É melhor deixá-lo quieto aqui e ir correndo avisar ao Manuelzão. - Apressa Dé
de Santana -.
As
duas ficaram por alí desesperadas, mas Dé de Santana não demorou muito tempo já
estava de volta, ele e Manuelzão, que imediatamente foram colocando o corpo
inerte sobre os arreios do cavalo e caminharam com destino à fazenda de
Manuelzão.
Lá
chegando, providenciaram o velório, pois Nozinho não tinha familiares naquela
região.
Mais
tarde depois que o pessoal tomou ciência do ocorrido começou a chegar para o
pernoite funeral. Também por lá apareceu Neném que ficou um pouco afastado de
todos falando sozinho.
-
Este infeliz foi atravessar os meus caminhos, tive que mandá-lo para os
“quintos dos infernos”, “prus togós”. Agora, com ele debaixo da terra, Teca,
que já comecei a conquistar lá na festa ontem, será só minha. Só minha.
Enquanto
isso, algumas lágrimas rolavam no rosto moreno e pálido de Teca que tinha por
sinal grandes admirações por Nozinho. Desta forma eram as razões de suas
lágrimas, pois apesar dele ser um rapaz trabalhador tinha fortes laços de
amizades com seus pais.
Luz
não havia na sede da fazenda e o que iluminava o recinto eram as velas que se
punham à cabeceira do falecido e ainda algumas candeias dependuradas nos altos
portais.
Aproveitando
aquele ambiente, Neném aproxima-se de Teca para lhe falar aos ouvidos.
-
Teca, eu preciso conversar com você... Pode ser na varanda?
-
Mas logo agora? Não está vendo que estou velando o corpo de Nozinho... Olhe!
Meu pai está conversando com Manuelzão, mas não tira os olhos de onde me
encontro. Isto pode não dar certo.
-
Ele não vai notar a sua ausência... Está muito distraído... Talvez muito
preocupado também. Vamos!
-
Então vá primeiro. Espere-me lá. Não demoro.
Assim
feito não demorou muito tempo e lá estavam os dois juntos a trocar longas
conversas. Naquele momento, Neném fez a declaração maior.
-
Teca, não dá mais. Vou ter uma conversa séria com seus pais. Vou falar com eles
sobre nos dois. Vou pedir a sua mão...
-
Não. Não faça isso agora. Espere! Espere uns dias. Talvez mais uma semana.
Primeiro meu pai deve conformar com a ida de Nozinho. Eles eram muitos amigos e
sinto que meu pai está muito abatido. Isto poderá afetar os seus nervos e a
coisa pode complicar. Espere mais uns dias.
-
Está certa. Mas aguarde-me, em breve estarei batendo à sua porta.
Depois
daquela conversa, os dois voltaram para a sala e o velório se completou com a
chegada do sol. Era um novo dia.
Muitos
fizeram o cortejo fúnebre e depois de ter jogado os costumeiros punhadinhos de
terra sobre o corpo do falecido regressaram aos seus lares comentando,
perguntando e querendo respostas sobre quem poderia ser o assassino de Nozinho,
até mesmo Neném fez interrogações.
Os
dias foram passando e como até o sétimo depois da morte ainda parece que o
corpo se faz presente, Nozinho não havia caído ao esquecimento. Todos
recordavam dele, era na lida na fazenda ou ao cair da tarde nos horários
costumeiros em que passava para ir à casa de Dé de Santana, instantes em que
abanava a cabeça, coberta com seu chapéu de couro que nunca o abandonara, para
cumprimentar a todos. Enquanto os dias iam devagar, Neném aguardava o momento
de dar seu golpe fatal.
Contava
os dias e noites para ir à casa de Teca e resolver logo a situação entre os
dois.
O
vazio causado pela ausência de Nozinho desaparecia quando Teca se punha a
cantar ao som dos acordes de um violão que muito bem sabia manusear. Isto fazia
com que aos poucos as lembranças iam tomando distâncias e a vida lentamente
parecendo voltar ao normal.
A
aproximação de Neném ia tomando formas concretas, mas Dé de Santana de nada
fazia gosto. Passados os dias determinados, conforme combinação entre Teca e
seu admirador, o encontro inevitável estava próximo a acontecer.
Numa
noite em que a lua apenas parecia um risco côncavo a caminhar lentamente sobre
a terra. Quando Teca estava a pontilhar o violão na escada que dava acesso à
entrada de sua casa, pôs as vistas em um cavaleiro que a passos lentos vinha
depois dos pés dos ipês amarelos enfileirados de um lado ao outro da estrada
até a chegada da porteira. O coração da pequena parecendo estar dependurado em
fios de linhas tecidos de algodão sacudia dentro do peito, mais por medo do que
por emoção. Algo lhe dizia de que aquele era Neném e que seria o dia em que ele
viria pedir a sua mão. Por isso, temia
que seu pai pudesse não aceitar. Só em pensar nisso começava a tremer, pois
Neném havia prometido em outros encontros que era capaz de qualquer coisa para
tê-la.
Dé
de Santana tinha dois cães que anunciavam a chegada de qualquer estranho que
por lá aprecia, e não foi ao contrário, quando aquele homem estava mais
próximo, os cães começaram a ladrar. Momento em que de lá de dentro ouve-se uma
voz a perguntar.
-
Quem está chegando Teca? Quem é?
-
Não dá para ver, pai, a noite está escura. Mas deve ser pessoa conhecida, pois
os cães pararam de alvoroçar. - Respondeu Teca, preparando o espírito do pai.
-
Ah! Então quando chegar mande entrar. Mande entrar...
Ele
foi aproximando, abriu a porteira e já havendo apeado do cavalo, caminhou
lentamente em direção a casa. Teca que se encontrava na varanda se pôs de pé.
Neste momento os dois já estavam frente a frente extasiados. Neném tomou a
iniciativa cumprimentando-a com uma voz pálida.
-
Boa noite!
- Boa noite. Respondeu secamente
O prometido estava
para acontecer, o rapaz estava certo de que daquele dia em diante os laços
entre ele e a família de Teca iriam se atar para sempre, contudo havia em seus
ombros o peso do assassinato de Nozinho.
Se pelo menos em
sonhos, Dé de Santana fizesse suposições de que Neném era o assassino de
Nozinho tudo ia por água abaixo.
Teca, obediente ao pai
fez imediatamente o convite para que ele entrasse.
Ele sem fazer muitas
menções, configurando as palavras, subiu os degraus de entrada da casa, tomou
as mãos da inocente moça e para demonstrar sua paixão, apertou-as de forma
significativa.
Dé, lá de dentro pergunta
quem deve a honra da visita.
- Teca, quem nos dá a
honra da visita?
- É Neném, meu pai. É
Neném.
A resposta soou como
estampido de canhão aos ouvidos de Dé. Aquela era a primeira vez que o dito
rapaz punha os pés em terras da família Santana.
- Diga-lhe que estou
de ida. – Disse Dé de Santana.
Preocupada com o que
poderia acontecer, Noêmia que sempre antepunha a presença do marido, não
perdendo tempo, já estava ao lado de Teca,
ela tremia como se diz o popular daquela região, “mais que vara verde”.
- Neném, o que o está
querendo com Dé?
- A senhora não se
preocupe não, quero nada cum ele não, aliás, quero sim. Vou adiantar aqui a
nossa cunversa. Num vou arrodear não, vim aqui
é prá pedir a mão de sua fia em casamento. Quero a resposta inda hoje.
- Mas Neném...
Quando Noêmia ia dizer
que aquilo era um absurdo, ouve-se o pisar firme de Dé de Santana a soar nas
tábuas do casarão. Ao atravessar a soleira da porta que dá acesso à varanda,
ele raspou a garganta, hábito que tem quando está nervoso e foi se achegando.
Ele que era um homem precavido procurou jogar a capa de pelo de lebre sobre o
corpo, a qual dava para acobertar a arma que postava à cintura sem que jamais
pudesse ser percebida e foi logo a um cumprimento sem muita cerimônia:
- Noite, Neném. O que
deseja tão tarde da noite, homem?
- Sei que temos rixas
antigas, mas acredito que isto foi no passado, não vim aqui para falar do
passado, quero falar do presente. Apesar de tudo, sempre quis ser amigo da
família, mas...
- Fale logo, o que
veio fazer aqui. Não sou homem de rodeios. Comigo a coisa é ou não é, e por
demais, não posso ficar aqui a perder tempo. Amanhã é outro dia e tenho muito
que fazer, diga logo, sou todo ouvido.
- Pois então, como já
lá ia dizendo além de amigo da família e que tanto quis ser. E que estou aqui
para pedir a mão de sua filha em casamento. Eu gosto dela e já faz um tempão.
- Disso eu já sabia,
mas a minha filha...
Neste momento, Noêmia
evitando uma resposta mal dita pelo marido tentou amaciar a história.
- Olha aqui Neném, nós
criamos nossa filha não foi para nós não, mas preste atenção: a gente sempre
quis o melhor para ela e tem outra coisa, ela só casará com quem for de gosto
dela.
Aquela conversa tirou
todo o jeito do dizer não que já estava na garganta de Dé de Santana. O que lhe
restou foi dirigir uma pergunta à sua filha para depois então consentir ou não
com tão absurda proposta.
- Como disse Noêmia,
nossa filha só casará com quem for do gostar dela, não é mesmo Teca?
Falando com a voz
quase que desaparecendo, Teca apenas afirma.
- Sim, papai.
- Pois então, filha,
você tem algum sentimento por este homem aí?
Apesar de poucos
encontros e forçados, de beijos roubados, ela não sentia nenhum calor por
aquele homem, porém temendo que ele cumprisse as promessas, ela respondeu ao
pai.
- Sim, papai. Quero
pedir ao senhor e à mamãe as minhas desculpas, mas há muito tempo venho me
encontrando às escondidas com ele e se os senhores consentirem a nossa união,
me casarei, mudaremos e construiremos família em outras paragens.
- Já que este é o seu
gostar, tem o meu consentimento. – Disse Dé de Santana.
- E o meu também. –
Afirmou Noêmia.
Naquele momento estava
selado um pacto entre Dé e Neném, a data para o casamento seria marcada em
outra ocasião. Todos daquela região ficaram sabendo do ocorrido. Neném passou a
freqüentar normalmente a casa daquela família. Tudo transcorria normal até que
um dia... Até que um dia aparece por lá um homem estranho, vindo do Estado de
Goiás e faz paragens na fazenda de Manuelzão. Por lá se arranchou. Não mostrou
suas identidades, mas estava sempre retirado de todos, às vezes indagando,
sobre a região, sobre as pessoas, sobre as mortes e entre estas indagações,
numa noite em que estavam reunidos no terreiro da fazenda de Manuelzão, tocaram
no acontecido da morte de Nozinho, bem na noite de Santo Antônio. Gregório, um
negrinho que morava há muito tempo lá na fazenda, linguarudo como ele só foi
dando com a língua entre os tentes e delatando passo a passo a versão do crime.
Mas nunca citava o autor da tragédia, dando a entender para quem não é bobo,
soltou como uma válvula de escape que o Neném poderia ser o matador de Nozinho,
disse ele que uma vez escutou Neném todo enciumado dizer que ninguém casaria
com Teca a não ser ele e como Nozinho era muito achegado à família de Dé de
Santana, então... Aquilo foi como uma bomba estourando aos ouvidos do
forasteiro, que entre todos era apenas conhecido como Zué, pois foi assim que
se apresentou na sua chegada por aquelas bandas.
Ninguém por ali
imaginava que ele, o Zué, era o irmão mais novo de Nozinho, e que já tinha
conhecimento da sua morte. Não estava naquele lugar por acaso. Buscava vingança
e com as próprias mãos, então Zué, perguntou ao negrinho:
- Não. Mas isto não
pode ser possível! O Nozinho de quem todos têm somente boas recordações, pessoa
de agrado de todos, mas logo ele uma pessoa bondosa! Você acha que foi o Neném?
Não havia mais ninguém que tinha má querência com o Nozinho por estas
redondezas não?
- Qui é de meu
cunhecimento, não. – Respondeu o neguinho –
Neste momento,
aproximando da turma, para anunciar que já estava tarde e que era melhor todos
buscarem o descanso para a lida do outro dia, o Manuelzão, que escutava a
pergunta de Zué e a resposta do Gregório, foi adiantando:
- Sim, Zué. Havia um
homem que se chamava Jamelão, mas a má querência de Jamelão, não o levaria a
tanta barbaridade, como a que fizeram com o Nozinho. Também, naquela ocasião o
Jamelão já havia se mudado... Agora vamos todos. Já é hora. Boa noite!
- Boa – Respondeu o
negrinho –
Os dias foram
passando. O casamento de Neném estava marcado para o mês de maio do ano de
1985, no dia 25, dado dia seria num sábado, as horas seriam às dezessete.
Estava faltando apenas vinte dias para que o amor de Neném pudesse estar para
sempre do seu lado, mas ele não sabia o que estava por acontecer. O ódio
crescia cada vez mais dentro do coração de Zué, que buscava um momento para se
encontrar a sós com aquele mal feitor. Aí, seria consumado o desejo de vingar a
morte de seu único irmão.
Pois então, no dia 24
de maio daquele ano, começou os preparativos para a festa do casamento. Foi uma
matança de bichos, porcos, galinhas e até mesmo uma novilha foi sacrificada
para servir de churrasco a moda gaúcha.
Vez ou outra, o pai de
Teca dava um suspiro e dizia baixinho: “Saudades do amigo Nozinho. Aposto que
se estivesse no meio de nós, seus olhos estariam brilhando, pois gostava tanto
de uma leitoa assada. Coitado!”
Aquilo não sova bem
para os ouvidos de Neném que fazia de conta não dar ouvidos.
Ah! Quanto à ida de
Neném e Teca para outras paragens, isto não acontecera, pois Dé de Santana doou
um quinhão de terra para os dois onde construíram uma casinha lá na beira do
Riacho das Pedras. Não era muito longe da casa grande não, coisa de mais ou
menos uma légua de distância.
Zué, irmão de Neném,
ficou em companhia de Dé de Santana. Não era de muitas palavras não. O que ele
queria mesmo era vingança. Saber que foi o matador de seu irmão e um dia
desses, terminada a lida, quando o sol estava a derriba, Zué chamou o negrinho
Gregório para acompanhá-lo até a venda de Mané Rosário, na qual Neném fazia
ponto todos os dias antes da chegada do anoitecer. Naquele local era o ponto de
encontro dos rancheiros daquela redondeza, também era o único por aquelas
bandas aonde ele podiam apreciar o caldo da cana prensado pelo engenho movido
pelas águas correntes do riacho que banhava as terras de Manuelzão. Ele tinha
toda convicção de que Neném estaria lá, de forma que não perdeu tempo. Pegou os
caminhos de bois e fizeram destino, ele e o negrinho Gregório.
No caminho, fez um
pedido a Gregório.
- Gregório, então você
conhece bem o “tal” de Neném?
- É craro. Já apreciei
muitas de suas façanhas. O danado gosta mesmo é de encrenca.
Zué, a cada passo dava
um suspiro forçado, uma raspada na garganta e continuava a indagar.
- Ele é alto ou baixo?
- Baixo, mas não
muito.
- E a cor?
- Quase escuro. Moreno
claro. Porque tanta pergunta home de Deus. Ocê está mal intencionado cum ele?
- Cale sua boca
negrinho e espere só o que vai acontecer ainda hoje.
Os dois, depois
daquela conversa, foram silenciosamente até chegar à venda. Gregório não quis
saber de dar nem mais um pio, pois notou que Zué estava mesmo decidido em dar
cabo da vida do infeliz Neném, de forma que preferiu não abrir mais a boca.
Teve um momento que ele quis voltar, mas Zué estava no seu rastro, o negócio
era acabar de chegar. A venda estava repleta de gente, só não estava por ali o
pretendido. Talvez aquele dia não lhe estivesse reservado. Sorte a dele.
Zué e Gregório ficaram
por ali um bocado de tempo e depois bateram-se em retirada. Assim a promessa
foi adiada.
Por sorte de Neném
essa promessa nunca acontecera, pois Zué em um dia de lida no roçado foi
ofendido por uma cobra jararaca e como não havia muitos recursos naquela época,
veio a falecer coitado!
Gregório, não tocou
mais na morte de Nozinho. Fez promessa para Santo expedito que nunca mais
tocaria naquele assunto com ninguém. Mas segredo é difícil de guardar e ainda
mais em se tratando de Gregório, linguarudo que nem ele só, dia a mais, dia a
menos iria dar com as línguas nos dentes.
Jamelão que havia
partido dali para tentar a sorte na escavação em busca de ouro na Serra pelada
não teve muita sorte também. Notícias correram de que um barranco caiu sobre ele soterrando seu corpo
que nem mesmo foi encontrado. Morte triste a dele. Porém com tal acontecimento
parecia para Neném acabar o tormento da morte de Nozinho. Com Jamelão morto o
assunto seria arquivado. Mas tem nada disso não como dizia os antigos: “Nada
fica encoberto nesta face da terra não”. Não é que é mesmo! Os dias foram
passando e dados como esquecidos os fatos daquela morte até que aparece naquela
redondeza um homem maltrapilho, com um alforje na algibeira. Puro disfarce. Ele
era delegado de polícia. Investigador. Mandado para desvendar crimes ocorridos
naquelas bandas.
Foi em uma das tardes
em que o pessoal se reunia na venda de Mané Rosário que tudo veio à tona. Lá
estava o maltrapilho a tomar uma dose de aguardente. Momento em que os costumeiros
freqüentadores começaram a chegar, entre eles estava Gregório, que foi logo
assentando em uma saca de arroz com palha bem ao lado do balcão de madeira.
Quando ouviu o maltrapilho fazer indagações a Mané Rosário:
- Senhor, por estas
bandas acontece muitas mortes?
- De vez em quando. De
vez em quando! – Afirmou Mané Rosário –
- Mas ninguém vai
preso não!
- Até que vai, mas
quando é descoberto. Outro dia mesmo mataram um. Duas afoiçadas. Morte na hora.
Deu tempo de Firmino correr não. É... Correr até que ele correu, mas foi longe
não. Zé Gaiola viu tudo. Tudinho. Foi ele quem fez a denúncia. Logo, logo,
vieram dois soldados numa pressa danada e conseguiu prender Firmino ainda
subindo a serra da Mamoneira. Esse sim foi preso na hora.
- Ah! Então aqui é bem
calmo, não é mesmo!
- Sim.
Gregório que estava
ouvindo a conversa se contorcia todo. Queria tocar no assunto da morte do
Nozinho, mas quando pensava na promessa feita logo desistia de pronunciar. O
delegado não parava com as perguntas.
- Foi somente este
caso? Mas me parece que ouvi contar da morte de um tal Nozinho e que até hoje
não prenderam o assassino?
Neste momento,
Gregório se esqueceu da promessa e foi logo batendo com a língua nos dentes.
- Ah! Nozinho. Este eu
conheci. Morava perto da fazenda do Senhor Dé de Santana. Era muito amigo de
todos aqui. Ele morreu de tiros. Tocaia.
- Ninguém até hoje
sabe quem foi? – Delegado interroga Gregório –
- Não. Pensam que foi
Jamelão. Mas eu acredito nisso não.
- Então quem foi?
- Sei não. Nozinho
estava de mexerico com a filha de Dé de Santana. Agora quem estava querendo a
moça era Neném. Este sim. Este até que pode ser o matador. Jamelão não. Jamelão
tinha era uma rixa boba. Águas passadas. Não foi ele não.
O delegado não indagou
mais nada. Virou mais um gole. Despediu-se de todos e partiu. Dias depois
estava de volta, mas com outros trajes, bem vestido e acompanhado de mais dois
homens altos e fortes. Perguntaram onde morava Neném. Mané Rosário disse a ele
que Neném morava na Beira do Riacho das pedras, daí eles entraram numa viatura.
Dirigiram rumo à casa de Neném. Foram recebidos por Teca.
- Boa tarde! O Senhor
Neném está?
- Boa tarde! Não. Mas
não demora.
- Onde poderemos
encontrar seu esposo?
- Na casa de me pai.
- Muito longe daqui?
- Não. Mais ou menos
uma légua. É só descer o rio e quando subir aquela serra já da de vista as
terras de meu pai.
- Obrigado, Senhora!
Saíram ao encontro de
Neném. Não demorou muito deram com as vistas no homem. Pararam o carro. Deram
voz de prisão.
Neném foi julgado pelo
crime. Por unanimidade, foi condenado a vinte e cinco anos de prisão. Foi
levado para a penitenciária de Neves. Lá sofreu uma pneumonia que virou
tuberculose. Morreu quando já havia cumprido uns quinze anos da pena.
Teca foi morar com os
pais que já estavam velhinhos. Gregório, não deu mais as caras nas terras de Dé
de Santana. Os crimes por aquelas bandas não ficam mais impunes, mas sem vida
mesmo quem ficou foi Nozinho, coitado!
Tanto Nozinho quanto
Teca perderam a vida por causa de Neném.
JOÃO E. SÁ
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